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Análise: Abel Ferreira inicia 2026 sob a maior pressão de sua era no Palmeiras e sem mais ‘asteriscos’

'Casca' que protegeu português por muito tempo não existe mais e, a partir de janeiro, Abel precisa provar que ainda é capaz de conduzir o SEP ao topo Palme...

Análise: Abel Ferreira inicia 2026 sob a maior pressão de sua era no Palmeiras e sem mais ‘asteriscos’
Análise: Abel Ferreira inicia 2026 sob a maior pressão de sua era no Palmeiras e sem mais ‘asteriscos’ (Foto: Reprodução)

'Casca' que protegeu português por muito tempo não existe mais e, a partir de janeiro, Abel precisa provar que ainda é capaz de conduzir o SEP ao topo

Palmeiras sem títulos em 2025: culpa não é de Abel? Por quê não?

Abel Ferreira começa a temporada de 2026 em um cenário inédito desde que desembarcou no Allianz Parque, em 2020. Pela primeira vez, o treinador mais longevo do futebol brasileiro e maior campeão da história do Palmeiras trabalhará sem o “escudo” natural proporcionado por anos de resultados extraordinários.

Depois de um 2025 recheado de investimentos – total passou de R$ 700 milhões -, expectativas e frustrações, o treinador português entra cercado por dúvidas — e cobranças que já não podem mais ser desviadas.

A campanha de 2025 marcou um ponto de ruptura no Palmeiras. Com um elenco mais caro e profundo do que em qualquer outro momento de sua gestão, Abel não conseguiu transformar ‘fartura’ em desempenho.

O Palmeiras acumulou três vices — Paulista, Brasileirão e Libertadores — e repetiu padrões de queda técnica em duelos decisivos, especialmente contra adversários diretos do G-6. O futebol, antes reconhecível pela competitividade, virou sinônimo de previsibilidade, bolas longas e poucas soluções coletivas.

Time ‘esfarelou’ na reta final do ano e ficou sem soluções

As eliminações precoces de 2024 haviam sido tratadas com o discurso do “não podemos vencer sempre”. Já em 2025, essa narrativa perdeu força. A direção trouxe nomes de peso como Paulinho, Andreas Pereira e Vitor Roque, todos aprovados pela comissão técnica, e criou um cenário ideal para Abel reconstruir um ciclo vencedor. A resposta em campo, porém, ficou aquém do planejado.

A final da Libertadores expôs de forma escancarada o esgotamento das ideias. O Palmeiras não acertou um chute sequer no gol do Flamengo e recorreu novamente à solução emergencial de usar Gustavo Gómez como atacante, repetindo improvisos que viraram marca da temporada. A falta de variação tática e de estratégias ‘partindo para o desespero’ não podem ser ignoradas.

Individualmente, pilares da equipe caíram de rendimento. Piquerez, Murilo, Aníbal Moreno, Raphael Veiga e Maurício formaram uma espinha dorsal que em outros momentos sustentou o projeto, mas em 2025 estiveram abaixo tecnicamente. Para muitos, esse declínio é reflexo direto de um modelo desgastado e de escolhas equivocadas do comando técnico.

Mesmo com três “finais” disputadas e uma boa participação no Mundial de Clubes, os resultados não foram suficientes para mascarar o peso da frustração. Erros de arbitragem existiram, é verdade, mas já não explicam o conjunto da obra.

Futebol sem repertório na reta final da temporada, especialmente em Libertadores e Brasileiro, minou confiança em Abel Ferreira no SEP – Foto: Franklin Jacome/Getty Images

A percepção é de que o Palmeiras não evoluiu e, mais grave, perdeu competitividade justamente nos jogos que definem títulos. Por isso, 2026 se torna um divisor de águas na trajetória de Abel.

Sem a proteção das conquistas passadas e com investimentos que elevaram o patamar do elenco, a cobrança será proporcional ao que o Palmeiras se tornou sob sua própria gestão: um clube que joga para ser campeão, não para apenas “chegar”.

O que vem para frente: Abel não tem mais ‘blindagem’ em 2026

A partir de janeiro, não haverá mais espaço para justificativas externas. O desempenho da equipe, as escolhas táticas, o desenvolvimento dos reforços e a capacidade de extrair o máximo de um elenco estelar estarão diretamente associados ao trabalho de Abel — e somente dele. O português, que fez história, agora precisa provar que ainda é capaz de conduzir o Palmeiras ao topo.

A torcida, por sua vez, já deixou claro que não aceitará outra temporada de medalhas beijadas no segundo lugar ou discursos de valorização do “processo” sem entrega final. O teto de tolerância caiu, e o 2026 do Alviverde será vivido sob a maior lupa desde o início da era Abel.

Para seguir sendo protagonista, o treinador terá de reencontrar o futebol que o levou ao auge — e reinventar um Palmeiras que, pela primeira vez, cobra dele mais do que jamais cobrou.